Será que é isso mesmo?

23 de Novembro de 2016

Helen Lugarinho Pereira


Como os jovens podem lidar com as incertezas na hora de escolher a profissão

A adolescência é um período de transição entre a infância e a fase adulta e, por isso, é caracterizada por várias transformações que vão além da aparência. Mesmo que as pessoas passem por constantes mudanças ao longo da vida, como o casamento ou o nascimento dos filhos, as transformações da adolescência definem a identidade. É um momento repleto de experiências, em que a personalidade e os gostos se firmam, trazendo à tona diversos sentimentos antes inexistentes. É também nessa fase que muitas responsabilidades são atribuídas aos jovens que, diante das novas obrigações, desenvolvem angústias e incertezas. Uma dessas “obrigações” é decidir a profissão que eles desejam seguir o resto da vida assim que saem da escola, com cerca de 17 anos.


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Precisamos falar sobre suicídio!

23 de novembro de 2016

Renan Castelo Branco


A proibição da prática, diálogo e debate de determinado assunto ou atividade social que sejam culturalmente “reprováveis” caracteriza os tabus, criados por convenções sociais, religiosas, morais e culturais. Tais criações se dão na crença de que estes são meios de preservar os "bons costumes" da sociedade, limitando a prática de determinados atos ou evitando falar de assuntos considerados polêmicos. Durante muito tempo, quebrar um tabu era violar um código de conduta, e isso poderia causar grandes prejuízos ao violador. Temáticas como sexualidade, aborto, racismo e machismo são só algumas das áreas de discussão que sofrem uma espécie de censura moral, para manter um estado de suposta harmonia social.
Ignorado, por sensação de culpa ou medo de “contágio”, o suicídio foi incluído na lista de tópicos que ficam no limbo da comunicação. O obscurantismo diante do tema cria uma falsa noção de inexistência. Algo perto da ideia de “se não falamos sobre, não existe”, mas a dor continua presente. A ansiedade e angústia permanecem a assombrar, perseguir. E o vazio cresce. Toma espaço. Leva o tempo, as vontades, a força. O que trazia conforto vira desamparo. O sono não é o mesmo, as noites são longas. O silêncio traz paz, quietude, mas também medo, insegurança e desespero. A ideia de conversar com alguém parece absurda. “O que vão pensar de mim?”. Esse tabu social envolto à autoflagelação não só cria mitos, mas também cerca aquele que se sente suicida.


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Zawarahu, a filha da onça


06/06/2016


Por Lucas Ronconi






         O dia no Rio de Janeiro estava cinza e uma chuva torrencial insistia em cair. A mãe natureza escondia o Sol, tão precioso para o povo Kari’ok. Foi nesse clima de montanha, peculiar para uma cidade litorânea, que aconteceu o encontro com Carolina Potiguara. Uma oca perdida em meio às árvores do Parque Laje, Zona Sul do Rio, deu a sensação de que estávamos imersos em um ambiente amazônico. Sentamos em um banquinho de madeira no meio da Oky; nesse momento tudo ao redor parecia vazio, a sensação era de estarmos sozinhos e perdidos em um lugar ainda não habitado pelo homem branco. A civilização do local foi substituída pelo canto próximo e ininterrupto de passarinhos que proporcionou a melodia da situação.

Aquela mulher de 33 anos e origem indígena sentada em minha frente portava um singelo cocar, um grande e colorido brinco de pena e duas pulseiras artesanais. Sem avisar, Carol fechou o olho, respirou algumas vezes, fez uma oração em Tupi para então começar a falar.

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Educador compartilha saberes na Baixada em defesa da democratização do acesso ao ensino superior


6 de Julho de 2016


Jéssica Simões




Há vinte anos, durante a busca pelo acesso ao ensino superior, Renato Gomes pôde sentir na pele as dificuldades enfrentadas por cidadãos que residem na periferia. Morador da Vila Operária, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e sem condições financeiras para custear cursos pré-vestibulares, ele e mais dois amigos formaram um grupo de estudo com o objetivo de passar, no até então distante, vestibular.
A dificuldade foi a força motriz utilizada por Renato na conquista da bolsa integral de estudos para cursar Geografia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC). E não parou por aí: antes mesmo de se formar sentiu a necessidade de compartilhar seus conhecimentos e ajudar pessoas que enfrentam situação semelhante. Era o início do Pré-Vestibular para Negros e Carentes, o PVNC. No começo, Renato e os amigos contaram com a ajuda da diretora de uma escola pública no mesmo bairro onde moravam. Tudo transcorria bem, até que a diretora proibiu que as aulas tivessem continuidade.
 “Foi uma decisão autoritária e arbitrária”, conta Vanessa Gomes, na época aluna do PVNC, hoje professora de Geografia e esposa de Renato.
Sem um local para ficar, Renato decidiu levar os alunos para uma praça próxima ao colégio, e as aulas passaram a ser, temporariamente, ao ar livre. Com medo da chuva e dos assaltos frequentes na região, surgiu a ideia de pedir a ajuda da mãe. Proprietária da escola infantil Seis de Janeiro, a mãe de Renato aceitou sem hesitar. E é lá que até hoje acontecem as aulas, todos os sábados e domingos.
Pouco tempo depois, outra ruptura marcou a história do PVNC. Os dois amigos que ajudaram na fundação do projeto decidiram aceitar a oportunidade de virar uma ONG. Renato se recusou, pois segundo ele aceitar dinheiro, seja oriundo de fonte pública ou privada, é submeter-se a determinadas influências. Seus amigos fundaram o Educafro, e Renato continuou - dessa vez sozinho - à frente do PVNC.



       Militância e consciência crítica
No pátio da escola, Renato aproveita o tempo vago para conversar com os alunos. Hoje, com a ajuda de outros professores, que ele prefere chamar de "militantes", pode dedicar-se apenas à coordenação.
 “A militância é a consciência social de precisar fazer. Se eu não vier para cá, as crianças ficam sem aula. O voluntariado é querer ajudar. Por isso as aulas são feitas por escala, para que os militantes não abram mão de estar com suas famílias”, diferencia.
As meninas com quem Renato conversa, embora ex-alunas, usam com orgulho o uniforme do projeto. Após a aprovação, voltaram para oferecer ajuda e foram designadas a divulgar a iniciativa nas escolas públicas da região. Entretanto, diversas diretoras não permitiram que elas entrassem. Sentadas em um círculo, as garotas fazem um mapeamento de outras escolas próximas, onde possam recrutar alunos do segundo e terceiro ano do ensino médio. Renato explica que os alunos sempre voltam para ajudar.
“O novo monitor de matemática acabou de passar para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e já vai começar na militância. Para o filho de pobre, a licenciatura ainda é o melhor caminho para a mobilidade social. Outro ex-aluno nosso é, agora, gerente administrativo da Faculdade Estácio e sempre manda quadros e cadeiras como doação. E quando surge alguma vaga de emprego por lá, ele me liga perguntando se tenho alguém para indicar.”
Os fatos comprovam como o pré-vestibular é parte crucial de sua vida. Frequentemente costuma levar até seus locais de prova, em seu próprio carro, alunos sem condições financeiras de arcar com as passagens de ônibus. É um cuidado que transcende a relação de aluno e professor. A importância do projeto é tamanha que foi tema de sua dissertação de mestrado, também na PUC. Apesar de ter concluído com êxito, Renato afirma que não tem pretensão de dar aula em universidade por ser um mundo muito elitizado. A despeito disso, a parceria com a PUC rendeu bons frutos. Hoje, o PVNC consegue algumas bolsas integrais para que os alunos ingressem no curso de Serviço Social. A quantidade varia anualmente.
“Eu só consegui me formar assim, através da bolsa da PUC. Além de não pagar mensalidade, ganhava o vale transporte e o ticket do bandejão. Só precisava me preocupar com a xerox. Eu sou fruto disso tudo”, lembra orgulhosamente Vanessa.
Para ajudar com as despesas, o PVNC pede uma colaboração de R$ 40 por aluno, além de um quilo de alimento não perecível, que são destinados ao preparo do almoço dos estudantes e professores entre os intervalos das aulas. A referência para estipular o valor da colaboração é de, no máximo, 5% do salário mínimo. O dinheiro é utilizado para ajudar nas despesas de locomoção dos professores. Mas Renato antecipa: “Se não puder pagar, não tem problema. O aluno será bem-vindo mesmo assim”.
Embora um dos objetivos do projeto seja direcionar os alunos ao ensino superior, Renato afirma não ter o quantitativo de alunos aprovados, pois se recusa a tratar a educação como mercadoria, assim como fazem os cursinhos tradicionais. Mas desde que precisou dos números para a sua dissertação de mestrado e não os conseguiu com exatidão, decidiu começar a contabilizar apenas para fonte de pesquisa futura. “O objetivo não é só passar. É também desenvolver a consciência social dentro de cada um.”
Em relação à educação em seu país, ele tem sérias críticas. Para Renato, a educação no Brasil teve seu declínio na Ditadura Militar, que até hoje deixa vestígios. “A questão da grade curricular nos mostra que não há flexibilidade. A China também passou por um processo que prejudicou sua educação, durante a Revolução Cultural, mas reinventou-se através das novas tecnologias”, compara.
Responsável por emancipar muitos jovens da periferia que convivem diariamente com a negligência do governo, não só no âmbito da educação, como também na saúde, cultura e segurança pública, Renato conta que é totalmente contra qualquer tipo de violência, seja ela física ou moral. “Não acredito em revolução armada, para mim a transformação se faz com educação”, sintetiza.


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Estudantes sim, mães também!


24 de maio de 2016


Por Emanuela Neves do Amaral

Estar na universidade pública hoje não é nada fácil. Antes mesmo de entrar no curso que escolheu, o estudante passa por uma maratona de processos seletivos e disputa vagas num cenário de intensa concorrência.Quando entra se depara com diversas dificuldades que uma instituição de ensino público hoje tem, como a falta de professores, infraestrutura muita vezes precária e falta de auxílio estudantil.
Agora, há um grupo de mulheres na universidade que, além de enfrentar tudo isso, tem que lidar com o desafio de ser estudante e mãe. Entre os cuidados com a criança, a mãe enfrenta a dificuldade de acesso aos espaços da universidade, a falta de vaga na creche universitária, pouco tempo de licença maternidade, falta de auxilio satisfatório e diversas outras barreiras até o fim da graduação.
“Entrar na universidade pra mim foi um sonho, que eu venho batalhando pra realizar. Mas é bem difícil, porque a universidade hoje é muito excludente para as mulheres que são mães. Eu já fui barrada com meu filho no bandejão. Trouxe ele várias vezes nas aulas, os professores são bem flexíveis com essa questão mas os demais espaços não são acolhedores. Eu me sinto excluída, porque várias coisas eu não posso participar por ter um filho. Tem coisas que eu quero ir e que não pode criança. As universidades embora tenham creches não é fácil entrar. Agora foi municipalizado e as mães universitárias não têm acesso a isso. Isso complica bastante o dia a dia”, conta Beatriz, estudante de Sociologia da UFF que foi mãe do primeiro filho ainda no ensino médio, antes mesmo de entrar na universidade.


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Por uma acessibilidade para todos



24 de maio de 2016


Por Juliana Caldeira

Desde janeiro desse ano, lei assegura a pessoas com deficiência direitos básicos, como saúde e educação. Com isso, escolas são proibidas de cobrar ou negar vagas a alunos especiais

2016 começou com boas notícias para as pessoas com deficiência no Brasil, pelo menos no papel. Sancionada em julho do ano passado, a “Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência” (LBI- Lei 13.146/15) entrou em vigor no dia 2 de janeiro, eliminando barreiras de acessibilidade em áreas de saúde, transporte, moradia, serviços, educação, esporte e cidadania por meio do respaldo às pessoas com deficiência para exercerem seus direitos em diversas esferas sociais. O estatuto vem para mudar de vez alguns comportamentos da sociedade, pois com essa aprovação não é mais o deficiente que precisa se adaptar. Tudo deve funcionar de maneira com que esse público possa ser recebido sem nenhuma diferença. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente no Brasil existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.

Um dos problemas enfrentados por essa parcela da população é o acesso à educação. Apesar de ser proibido por um decreto legislativo (n° 186) do ano passado, surgiram casos de escolas que cobravam uma taxa extra dos pais para o cuidado dos pequenos ao invés de investirem em profissionais capacitados, colocando a inclusão dos filhos nas mãos dos familiares. A partir de agora, as escolas tanto públicas quanto privadas não podem cobrar a mais do aluno especial e sim devem se adaptar às necessidades desses estudantes. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), as unidades de ensino não podem recusar matrículas de alunos com deficiência, pois a partir da nova lei, se isso acontecer deve ser considerado crime, com pena de dois a cinco anos de reclusão e passível de multa. Logo, as instituições não podem adiar ou cancelar a matrícula de algum aluno por ele ser deficiente.
No município do Rio de Janeiro, o trabalho de inclusão de crianças com necessidades especiais nas escolas da rede pública tem avançado a cada ano. Para aperfeiçoar o atendimento aos alunos da Educação Especial, a Secretaria Municipal de Educação, em parceria com o Instituto Municipal Helena Antipoff (IHA), desenvolve atualmente um trabalho pedagógico especializado, além de promover aos profissionais de educação uma formação continuada para que eles atuem diretamente com esses alunos.

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