24 de novembro de 2014
Após polêmica criada pelo candidato Levy Fidelix em debate eleitoral, universitários apresentam opiniões divergentes sobre o tema
Luísa Verçosa
O discurso considerado homofóbico pelos movimentos sociais do candidato à presidência Levy Fidelix (PRTB), em debate eleitoral no dia 28 de setembro na Rede Record, repercutiu nas redes sociais, ganhando críticas, mas também apoio de pessoas em todo o país. Manoela dos Santos, estudante de Publicidade na UFF, conta que são seus pais, muito religiosos, que não lidam bem com o assunto. “Minha família é contra a homossexualidade e minha irmã é lésbica. Eles fizeram questão de mostrar apoio ao Levy, mesmo que minha irmã estivesse ali para ouvir”. Assim como Manoela, Tuane Camara, aluno de Letras na UFF, concorda que os pais costumam ser os mais conservadores, mas adiciona: “No geral é aquela coisa de estar tudo bem desde que [os homossexuais] não mexam comigo”, falando de como parte de seus amigos reage. “Levy Fidelix só falou o que todos pensam, mas não têm coragem de dizer em rede social”, disse Diego Medeiros, usuário do Twitter.
O “lado conservador” tem a religião como componente. Para muitos jovens que criticam relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo, namoros ou casamentos só devem ocorrer entre homem e mulher. Pedro Henrique Bragança, estudante de Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é evangélico e sempre fez questão de deixar bem clara sua opinião sobre o assunto: “Acho errado, mas violência nunca". Assim também pensa Matheus Guimarães, estudante de História da UFF, também evangélico, que embora não concorde com relacionamentos homoafetivos, enfatiza que "homossexuais têm que ser respeitados como cidadãos”.
Pensamento similar também aparece no lado católico. A aluna de Administração da UERJ Mariana Souza diz que aceita a orientação sexual de cada um. “Tenho amigos gays. Trato-os como iguais”. Perguntados sobre a suposta incitação à intolerância no discurso de Fidelix, jovens entrevistados pelo Cadernos de Reportagem ficaram divididos em relação à criação de uma lei contra homofobia. “[Os homossexuais] têm que ser ouvidos como qualquer grupo social, mas não acho que homofobia tenha que virar crime e crime inafiançável, como querem alguns. Se alguém apanha por ser cristão, espírita, do candomblé ou porque ‘é bonito(a)’, como anda acontecendo, não há leis especiais. Os agressores se encaixam em agressão ou ‘homicídio’", afirma Bragança.
Repúdio ao discurso conservador
Idealizador do Dia da Visibilidade Bissexual, Léo Faria, aluno de Biologia da UFF, sabe o que é sofrer discriminação. O evento foi realizado no dia 23 de setembro contra os preconceitos enfrentados por quem se sente atraído por ambos os sexos. Após aceitar e assumir sua bissexualidade, ele conta como alguns amigos mudaram seu comportamento. “Algumas pessoas não mudaram nada, mas outros soltam umas piadinhas desagradáveis, e eu comecei a sentir que o respeito não era o mesmo”.
Já Daniela Gomes, estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), assumiu-se lésbica para os amigos mais próximos esperando que fossem aceitá-la de qualquer jeito. “Achei que o respeito pela minha sexualidade era óbvio, mas alguns amigos chegaram até a se afastar depois que souberam”.
Vendo o debate da Record, Léo não conseguiu conter a raiva em relação ao discurso de Fidelix. “Tem fundamentalista levando a religião para a política e perpetuando isso com discurso de ódio, mesmo que o Estado seja laico”.
Para Daniela, os pais têm influência direta sobre esse tipo de comportamento. “São os pais que levam o primeiro contato das crianças com a religião ou, se não são ligados a uma religião específica, são eles que ensinam valores”. Ela entende que o Brasil ainda é conservador e, por isso, tem muito o que mudar.
Anselmo Rodrigues mostra como a questão do preconceito independe de escolhas religiosas. Estudante de Produção Cultural na Universidade Cândido Mendes e evangélico, ele perdeu um amigo por conta da homofobia. O amigo dele, Alexandre Ivo, foi assassinado em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em 2012, depois de participar de uma festa. Ao voltar para casa sozinho, desapareceu. O corpo foi encontrado horas depois em um terreno baldio em sua cidade, com marcas de espancamento. Três suspeitos foram presos e negaram participação no crime. Um deles seria integrante de um grupo de skinheads, que estaria querendo se vingar.
“Eles [os gays] se sentem ameaçados todas as vezes que saem na rua, com medo de apanhar. É muito triste você se deparar com a notícia de que seu amigo gay foi agredido, morto”, desabafa Anselmo.
Vitor Hugo, aluno de Química na UERJ, também vive situação diferente. Hoje declaradamente gay, já foi fiel a uma igreja. Tentava sempre combater seus sentimentos e desejos por conta da religião, até que decidiu que era melhor se aceitar. “Frequentava igreja desde criança. Aprendi muitos valores lá, mas esconder minha sexualidade já não era uma opção para mim”, conta Vitor.
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