Bebidas alcoólicas são vendidas livremente no entorno do Maracanã

5 de junho de 2014

Ignorando a lei, ambulantes e bares vendem bebidas alcoólicas antes, durante e depois do jogo

Gabriel Rolim e Lucas Alves 

Na decisão do Campeonato Carioca 2014, entre Flamengo e Vasco da Gama, a venda de cerveja ocorreu livremente nos arredores do Maracanã, sem qualquer tipo de fiscalização. Torcedores podiam comprar e consumir facilmente, sem enfrentar dificuldade ou interferência de agentes públicos. O livre comércio de álcool contraria a lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas duas horas antes e duas horas depois das partidas, no espaço delimitado por nove vias da região.

Instaurada em 2009, a Lei Seca no Maracanã foi uma medida que ampliava a antiga, que só proibia a venda dentro do estádio. Tendo a Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) como responsável pelo cumprimento da lei, seu objetivo é coibir atos de vandalismo e violência, praticados principalmente por torcidas organizadas. 

No entanto, o decreto foi deixado de lado, tanto por autoridades quanto por vendedores. Os bares vendiam bebidas alcoólicas livremente, mesmo com a presença de guardas. Em um bar na Rua São Francisco Xavier, muito próxima ao estádio, foi possível observar um guarda municipal comprando refrigerante e ignorando o consumo e venda de cerveja a sua volta. Ambulantes também vendiam cerveja na porta do estádio. Alguns mais disfarçados, usando sacos pretos ou bolsas, e outros sem se incomodar com a presença de guardas e policiais. Torcedores circulavam em volta do Maracanã com latas de cerveja na mão. Alguns continuavam bebendo na fila de entrada, mas para ingressar tinham que descartar a lata.

Bar localizado no entorno do Maracanã, antes da final entre Flamengo e Vasco (Rodrigo Vessoni)

Até o ano passado, a fiscalização era rígida. Antes dos jogos, guardas e PMs faziam barreiras em ruas próximas ao estádio, impedindo a circulação de pessoas com latas de cerveja. Os ambulantes vendiam disfarçadamente, levando as cervejas em mochilas e anunciando a venda com discrição. Muitos deles eram detidos. Nos bares, os policiais avisavam o horário em que a venda de bebidas alcoólicas não podia mais ser realizada. Alguns bares, como forma de driblar a fiscalização, baixavam as portas e os clientes que estavam lá dentro continuavam a beber, porém ninguém mais entrava. 

Na final da Copa do Brasil do ano passado, disputada entre Flamengo e Atlético Paranaense, alguns torcedores revelaram após a partida que havia alguns ambulantes vendendo cerveja com álcool dentro do Maracanã. Outros vendiam ampolas com vodka ou whisky. Uma ambulante, que preferiu não se identificar, confirmou que alguns de seus colegas entraram com bebidas alcoólicas no estádio. “Teve um colega que entrou com cerveja, no ano passado, mas as câmeras pegaram. Apreenderam o material e tiraram a licença dele”.

“Como não pode beber lá dentro, os torcedores ficam bebendo 
aqui fora e deixam para entrar em cima da hora. Isso provoca 
muito tumulto na hora de entrar” (Carlos Alberto Leite, 
frequentador do Maracanã)

O rubro-negro Carlos Alberto Leite, assíduo frequentador do Maracanã, confirma a mudança na fiscalização. No ano passado, ele tinha que ir para um bar distante do estádio para beber uma cerveja antes do jogo. “Esse ano, parece que desistiram de fiscalizar. Todos os bares próximos ao Maracanã estão vendendo cerveja e os ambulantes vendendo normalmente, sem precisar se esconder”, afirma o torcedor. Ele também revela o constrangimento ao tentar consumir cerveja ao redor do estádio. “Ano passado, quando comprava cerveja com os ambulantes, me sentia como se estivesse comprando uma droga ilícita. Ainda tinha que esconder a lata dos policiais”. Leite também aponta problemas causados pela proibição de bebidas alcoólicas dentro do estádio. “Como não pode beber lá dentro, os torcedores ficam bebendo aqui fora e deixam para entrar em cima da hora. Isso provoca muito tumulto na hora de entrar”.

A Lei Seca no estádio contraria o que vai acontecer na Copa do Mundo. Durante o evento, serão comercializadas bebidas alcoólicas dentro dos estádios, segundo a Lei Geral da Copa. No entanto, na Copa das Confederações, que também teve a venda permitida dentro dos estádios, foi proibido o comércio de bebidas alcoólicas no entorno do Maracanã, o que causou prejuízo e revolta de comerciantes da região. 

Em ano de Copa, novos e velhos hábitos

Entretanto, o novo Maracanã apresenta algumas novidades muito funcionais. Com a praça esportiva modernizada, surgem novos profissionais, como os orientadores. São trabalhadores terceirizados, que trabalham para uma empresa contratada pelo consórcio que administra o estádio, com a função de ajudar os torcedores a entrar no Maracanã, informando as entradas e bilheterias. Eles recebem pela quantidade de jogos em que trabalham. Um mesmo orientador não é chamado para todos os jogos. A quantidade depende da demanda de cada jogo. Quanto maior a procura por ingressos, mais profissionais são chamados para trabalhar. Esses profissionais utilizam megafones para dar informações mais gerais, como as bilheterias que estão abertas. Quando um torcedor se aproxima, eles perguntam: "Posso ajudar? Você sabe qual seu portão?”. E quando se despedem, desejam “bom jogo” aos torcedores.

Orientador com megafone ajudando os torcedores a localizar bilheteria e portão de entrada
Outra novidade após a reforma é a ausência de policiais militares nas arquibancadas. Quem faz o trabalho de segurança são funcionários civis, sem qualquer tipo de armamento, os chamados stewards. Eles atuam orientando os torcedores, impedem que subam nas cadeiras e, casualmente, apartam brigas. Se uma confusão fugir do controle, eles podem acionar os policiais militares posicionados à beira do gramado para intervir e, possivelmente, deter algum torcedor. No entanto, os casos de violência dentro do Maracanã são cada vez mais raros, enquanto nos arredores do estádio o problema persiste, quase sempre protagonizados por integrantes de torcidas organizadas. Foi o que aconteceu na final do Estadual, quando torcedores uniformizados de Vasco e Flamengo protagonizaram uma briga, na esquina entre as ruas São Francisco Xavier e Isidro de Figueiredo. Policiais militares usaram bombas de gás para apartar a confusão.

Embora às vésperas da Copa do Mundo a imprensa tem mostrado a atuação dos cambistas no entorno do Maracanã, nossa equipe não registrou a presença na final entre Flamengo e Vasco. Figura típica do local, o cambista comprava ingressos antecipadamente, ou até mesmo falsificava, e vendia minutos antes do início da partida, por preços abusivos, quando os ingressos já haviam sido esgotados ou por preços mais baratos que os da bilheteria, quando a procura não era tão alta. Alguns torcedores já saíam de casa contando com a “ajuda” desse “profissional”. Uma das razões da redução da atuação de cambistas são as vendas via internet, além dos planos de sócio-torcedores oferecidos pelos clubes, que garantem descontos nos ingressos e a utilização do cartão para a entrada.

Uma prática ainda comum entre o antigo e o novo Maracanã é a presença de flanelinhas. Os guardadores de carro continuam atuando no entorno do estádio irregularmente, oferecendo vagas muitas vezes proibidas e cobrando preços abusivos. Muitos dos carros que estacionam em locais oferecidos pelos flanelinhas acabam sendo rebocados ou multados.


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