4 de abril de 2013

 Pais de alunos ainda tentam brigar pela permanência da instituição,
a quarta melhor do Rio e a 10ª  melhor do Brasil, segundo o IDEB

Thayuan Leiras

A Escola Municipal Friedenreich será demolida. É o que garante a Prefeitura do Rio. Responsável pelas obras do novo complexo esportivo Estádio Mario Filho (Maracanã), a gestão municipal afirmou, por meio da Secretaria Municipal de Educação, que a escola será derrubada e as crianças, realocadas para uma nova unidade, que ainda será construída. A prefeitura, porém, divulgou que ainda não há um projeto para a construção da nova escola nem a definição do local onde serão realizadas as obras. No lugar da instituição de ensino, está prevista a construção de uma quadra de aquecimento de atletas para o Maracanãzinho.

O imbróglio sobre o destino da Friedenreich não é recente. Começou em 2009, quando o vereador Carlo Caiado (DEM) desenvolveu projeto de lei – número 469/2009 – para tombar o colégio, alegando interesses sociais e educacionais. A iniciativa foi levada à Câmara em dezembro do ano passado. O projeto de lei foi aprovado na Câmara em primeira instância. Segundo o município, os estudantes da Friedenreich continuarão sua rotina no Maracanã até o final de 2013 ou até a nova escola ficar pronta.

Os pais dos alunos não estão satisfeitos e formaram uma comissão para tratar do assunto. Eles não aceitam negociar a transferência de seus filhos para uma nova unidade. As famílias querem que a Friedenreich continue onde está e temem que a mudança possa comprometer a qualidade e o funcionamento da instituição, a quarta melhor do Rio e a 10ª melhor do Brasil, segundo o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (IDEB). “A escola funciona ali há 48 anos, tem toda uma história com o Maracanã”, disse Carlos Ehlers, pai de aluno e professor de História e Filosofia.

A Escola Municipal Friedenreich atende a 320 alunos, do ensino infantil ao quinto ano, entre eles crianças com necessidades especiais, e desenvolve projetos sociais, como feiras culturais e shows infantis. 
Apesar de a Secretaria de Educação ter afirmado oficialmente não haver projeto formulado para a construção da escola que abrigará os estudantes da Friedenreich, o gabinete do vereador Carlo Caiado afirmou ter recebido ligação da Prefeitura do Rio assegurando que o espaço para a construção já foi escolhido: fica em área de posse da prefeitura na Rua Francisco Xavier, nº 95, na Tijuca, onde funciona um estacionamento. Outra escola municipal, a Orsina da Fonseca, fica ao lado do espaço previsto para a Friedenreich.

A nova instituição seria construída em modelo padrão, já usado pelo município em outros locais. As informações do vereador vão de encontro às do secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, que afirmou, em entrevista à Rádio CBN, no final do ano passado, que a escola seria transferida para o prédio da antiga Escola de Veterinária do Exército, em São Cristóvão. 

Identidade sociocultural

Os pais de alunos da Friedenreich se organizaram em uma comissão para lutar pela permanência da escola. A comissão acredita que não há motivos aceitáveis para a retirada da unidade do Maracanã, argumentando sobre gastos públicos e identidade sociocultural da escola com o espaço. Para garantir a manutenção da Friedenreich, os pais entraram com ação no Ministério Público.

Escola atende a 320 alunos, do ensino infantil ao quinto ano, e desenvolve projetos sociais (escolamunicipalfriedenreich.blogspot.com)

A assistente social Marcia Fernandes, de 29 anos, teve seu e-mail recebido pela organização Meu Rio, que começou uma mobilização a favor da não demolição da escola em 2009. No processo, foram obtidas 17.825 assinaturas apoiando a iniciativa, via Internet. “A gente quer o tombamento da escola. Queremos continuar aqui. A mudança seria apenas em último caso, e apenas quando o outro prédio ficasse pronto”, disse a assistente social.

O professor Carlos Ehlers, que também participa da Comissão, mantém uma opinião firme quanto à mudança. “A escola oferece um ensino de qualidade. Não tem sentido demolir uma escola que vai bem. Ainda tem a identidade da escola com o Maracanã”, afirma Ehlers. O professor também abordou pontos desfavoráveis se a mudança se concretizar, como a utilização das instalações esportivas para uso dos estudantes, que recebera o nome de antigo craque de futebol brasileiro, Arthur Friedenreich. “É jogar dinheiro público duas vezes no lixo. Destruiria um patrimônio material e imaterial”, completou.

Obras do complexo do Maracanã já somam mais de R$ 1 bi

As obras para a construção do novo complexo esportivo do Maracanã incluem mudança de cobertura, aumento do número de sanitários e lanchonetes e modificações nos acessos. Apenas com o Estádio do Maracanã serão gastos R$ 882,9 mi, segundo dados do Ministério do Esporte divulgados em novembro de 2012.

Gastos apenas na reforma do estádio do Maracanã chegam a R$ 882,9 mi (Foto de Genílson Araújo/Ag.O Globo)

Apesar de as obras prosseguirem, já foram detectadas irregularidades, como a derrubada da cobertura do Maracanã, construção tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que proibia qualquer interferência na estrutura física externa. Em 2011, porém, a prefeitura anunciou a derrubada, que foi aprovada pelo Iphan. Chegou a ser iniciada uma investigação no Ministério Público Federal, mas a cobertura do estádio foi demolida para dar lugar a uma outra, protegendo todos os assentos da nova arena.

Sobre as obras no entorno do estádio, estão previstas reforma da Estação Multimodal do Maracanã – que custará R$ 161,5 mi ao pelo Governo do Estado – e reurbanização do entorno do estádio e ligação com a Quinta da Boa Vista – responsabilidades da gestão municipal, no valor de R$ 109,6 mi. Segundo site do governo (www.portaltrasparencia.gov.br/copa2014), as obras servirão também “para atender às exigências da Fifa de criar pelo menos 14 mil vagas de estacionamento”.  O site ainda informa que 1,5 quilômetros do entorno do estádio estão incluídos nestas obras, abrangendo terrenos do Maracanã, Uerj, Quinta da Boa Vista, Colégio Militar e áreas do Exército. 

O Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio de Lamarie, que compõem o Complexo do Maracanã, também deverão ser demolidos ara as obras da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016. 

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