Usuários reclamam de equipamento com defeito
e motoristas sem preparo
14 de maio de 2012
Versão PDF
Por Mayara Mendes CoutoArte de Ildo Nascimento
Alameda São Boaventura. Um senhor em uma cadeira de rodas faz sinal para um ônibus da Viação Fagundes na Estação Horto. O motorista desce para acionar o elevador de cadeirantes, mas não sabe usar o controle e não consegue fazer o elevador descer. Outros ônibus, obrigados a passar por ali, aguardam parados na via expressa. O congestionamento se estende por toda a Alameda. O motorista do ônibus de trás, também da Viação Fagundes, desce para ajudar. Finalmente, quase meia hora depois, o cadeirante embarca, atrasado e constrangido.
Situações como esta têm sido comuns para quem usa cadeira de rodas e depende do transporte público municipal e intermunicipal de São Gonçalo. De acordo com a Lei Federal nº. 10.098 todos os ônibus deverão ter elevadores para cadeirantes até 2014. Segundo o Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro), hoje 40% da frota possuem esse equipamento. Mas isso não basta: os usuários reclamam, principalmente, da falta de treinamento dos motoristas e dos vários elevadores com defeito.
Cadeirante faz vídeo para denunciar o problema
Christiane Azeredo, 39, sofre de um tumor ósseo nas pernas e há quatro anos parou de trabalhar. Precisa buscar tratamento em Niterói e no Rio de Janeiro e reclama: “Se eu tento pegar um ônibus perco 40 minutos para embarcar. Os motoristas nunca conseguem descer o elevador. Quando vou ao médico, para não me atrasar, gasto um dinheiro que não posso andando de táxi’’. Christiane é usuária da Viação Nossa Senhora do Amparo e conta que os motoristas da empresa perguntam se podem pegá-la no colo porque sabem que terão problemas com o elevador. “Eu permito, mas me sinto constrangida e exposta frente a pessoas que eu mal conheço’’.
O estudante da UFF Thiago Lacerda também reclama dos elevadores. “Pego ônibus com frequência e é sempre a mesma coisa: ou o equipamento está escangalhado ou os motoristas se atrapalham pra mexer no elevador”. Morador de São Gonçalo, Thiago diz que o problema é pior com as linhas de ônibus do município. “Nas linhas de Niterói, não há muitos problemas e os motoristas, em geral, são muito solícitos. O grande problema está em São Gonçalo”.
Motoristas reconhecem dificuldades
Vários motoristas que trabalham em empresas de São Gonçalo deram entrevistas, mas sob a condição de não serem identificados. Admitiram que os elevadores apresentam uma série de defeitos. A maioria afirmou que as empresas não fazem a manutenção dos equipamentos, que, com ferrugem e sujeira acumulada, acabam não funcionando.
O fato de os elevadores ficarem na porta traseira, e não numa saída especial, seria outra agravante, pois pisar constantemente no equipamento contribui para o acúmulo de sujeira e o prejuízo da parte mecânica.
Todos os motoristas entrevistados responderam que recebem treinamento das empresas, mas um deles, da Viação ABC, argumentou que a falta de prática os atrapalha, pois ainda são poucos os ônibus para cadeirantes.
Multas e silêncio
Sobre o defeito nos elevadores, o Detro que fiscaliza semanalmente os ônibus e multa as empresas que não zelam pela manutenção adequada. Foram feitas inúmeras tentativas de contato com as viações Fagundes, ABC e Viação Nossa Senhora do Amparo, mas nenhuma delas respondeu. Quem se sentir prejudicado pelo mau uso dos elevadores devem entrar em contato com a Ouvidoria do Detro através do telefone 2332-9538, no horário 9h às 18h, de segunda a sexta-feira.
Comente
Atenção: Após a publicação, seu comentário estará visível na próxima aba: (x) Comentário(s)
Informamos que os comentários podem ser excluídos caso sejam considerados ofensivos, discriminatórios ou não tenham relação com o conteúdo das matérias.