24 de janeiro de 2012
Por Mariana Pitassee Jéssica Alves
Ser âncora do principal telejornal do Rio de Janeiro, o RJTV, participar do rodízio de apresentação do Jornal Nacional e do Bom Dia Brasil da Rede Globo e, ainda assim, ser acessível para entrevistas de estudantes de jornalismo da Universidade Federal Fluminense, não deve ser tarefa fácil. Depois de estar de prontidão às quatro da manhã para cobrir a operação da Rocinha, Márcio Gomes conseguiu terminar mais um longo dia de trabalho. Só pôde atender ao pedido de entrevista por email, na qual tratou da rotina como entrevistador, das peculiaridades da produção jornalística na televisão, e compartilhou um pouco de sua experiência profissional.
Formado em jornalismo pela PUC-Rio, Márcio começou a trabalhar como redator de rádio, mas foi como repórter de televisão que se destacou. Passou pelo SPTV, Em Cima da Hora, até que em Janeiro de 2000 assumiu a bancada do RJTV. Para Márcio a maior dificuldade encontrada na entrevista produzida para televisão é a forma como o entrevistado se expressa, já que o requisito básico é ter uma boa fluência na fala. “Muitas vezes perdemos boas entrevistas, com conteúdo e informação, pelo motivo de o entrevistado ter uma fala contínua, sem pausas”.
No comando do telejornal que tem como característica dar voz à população, Márcio revela que considera importante o repórter se mostrar aberto. Iniciar uma conversa antes da entrevista seria uma boa técnica para quebrar a resistência ou o nervosismo. “Se o repórter já chega tenso, atrasado, apressado e encontra um entrevistado inseguro, assustado com a câmera, é quase certo que a entrevista não deve fluir muito bem”.
Para Márcio, existem dois tipos de jornalistas: os que iniciam a entrevista achando que já sabem de tudo e os que esperam para ouvir algo de interessante a cada fala do entrevistado. A construção das melhores reportagens para o jornalista se dá a partir da atitude cordial e aberta do entrevistador, além do conhecimento do assunto para a fluência da entrevista. Márcio destacou ainda que considera importante para o aprendizado da prática jornalística as conversas com os professores na universidade, mas a prática do dia-a-dia é uma grande escola.
Sobre sua experiência com as reportagens de tragédias e a parcela emocional as envolve, o jornalista é enfático: diz que o envolvimento ajuda, sim. “Se você se coloca no lugar do entrevistado, sente o problema que ele enfrenta, sua reportagem rende mais. Isso não significa chorar no ar, nem contar alguma história pessoal na própria reportagem. Significa ter a humildade e a sensibilidade de entender o que a pessoa está sentindo e passar isso para o telespectador. Essa emoção ajuda a contar a história”.
Já as experiências com entrevistas de cobertura do carnaval do Rio revelam uma importante barreira: o barulho. De acordo com Márcio, ouvir os entrevistados é o maior desafio no momento em que as passarelas de samba e os blocos estão fervilhando. Outra peculiaridade é a difícil articulação de palavras para aqueles que já tomaram umas doses a mais. Ou ainda aqueles que querem aproveitar a oportunidade para aparecer mais do que contribuir para a entrevista. “Mas é uma época de festa, de celebração, então pode até valer esse tipo de entrevista”, conclui Márcio, pronto para descansar e voltar a mais um longo dia de trabalho.
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