Crônica

10 de janeiro de 2011
Por Sylvia Moretzsohn
Ilustração: Ildo Nascimento


Não só porque se trata de um aspecto muito significativo de privilégio a meia dúzia de ungidos por essa espécie de direito divino que teima em persistir num país que se pretende republicano, embora a forma pela qual o assessor tentou desqualificar a denúncia apenas reitere essa arrogância cínica de quem exerce uma função pública mas se supõe imune à necessidade de prestar contas ao público. A relevância do caso está, principalmente, na "facilidade" especialíssima que esse privilégio oferece: a ausência de controle sobre as bagagens.

Ao noticiar o fato, em destaque na capa de 6 de janeiro, a Folha de S.Paulo enfatizou o nepotismo, ressaltando a benesse concedida a dois filhos de Lula, dois dias antes do fim do mandato do presidente. A informação mais importante, porém, viria no dia seguinte, com quase um ano de atraso, e não na manchete da página, mas num subtítulo: em fevereiro de 2010 o bispo da Igreja Universal Romualdo Panceiro Filho também recebera um passaporte diplomático, válido por um ano. Segundo o jornal, Panceiro, responsável pela congregação na América Latina, é apontado como sucessor do bispo Edir Macedo, e teria recebido o benefício a pedido do senador Marcelo Crivella.

Em abril de 2010, a Folha publicava reportagem com vídeos entregues ao Ministério Público por um ex-membro da Universal, documentando a exortação de Panceiro à obtenção de dízimos durante a crise financeira mundial em 2008.

Passaportes diplomáticos são concedidos a determinadas autoridades e, mediante autorização do ministro das Relações Exteriores, a pessoas que "devam portá-lo em função do interesse do país".
Por que o "país" teria "interesse" em conceder passaporte diplomático a esse bispo? Quantas viagens internacionais ele terá feito ao longo do ano com esse documento? Haverá "interesse" em renová-lo em fevereiro?

Perguntas absolutamente irrelevantes, como se vê.

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