4 de outubro de 2010
Por Leonardo Pimentel Freire e Luísa MelloAmaro: campanha é oportunidade de ganhar um extra Foto: Gabriela Charpinel |
“Na verdade eu nunca vi o meu patrão e, como estou desempregado, faço esse biscate para ajudar em casa.”
História semelhante tem Charles, de 20 anos. Enquanto não começa a faculdade de enfermagem, pede votos para o candidato a deputado federal Sérgio Camargo (PV), embora só tenha o conhecido lendo o folheto que distribui nas ruas.
“Conheci o Sérgio quando comecei a fazer esse trabalho. Estou aqui mais pelo dinheiro mesmo, que vai me ajudar a pagar a faculdade” conta o rapaz, que se desloca diariamente de Campo Grande a Ipanema, na Zona Sul, e recebe R$ 200 por semana pelo serviço.
O voto por gratidão
Há ainda aqueles que trabalham para determinado candidato e justificam seu voto por gratidão. É o caso de Norma Tavares, de 53 anos, também do Cantagalo e que panfleta para o candidato a deputado federal Brizola Neto (PDT), em quem votará em função de benfeitorias promovidas, há décadas, pelo famoso avô na comunidade.
“O Brizola trouxe água encanada para nós, construiu estradas. Meu voto é no neto dele”, afirma a senhora, que concilia a panfletagem com o comércio do qual é dona. “O que ganho aqui vai para os estudos do meu filho, para comprar materiais.”
Edson Constâncio, de 51 anos, aposentado e da mesma comunidade de Norma, ganha as ruas pedindo votos para o candidato a deputado federal Julio Lopes (PP), a quem atribui atenção e carinho pela comunidade.
“O Julio sempre está lá no (Canta)Galo, ele vai olhar por nós com certeza. Ele também fez o Bilhete Único, que ajuda muitos moradores daqui, porque muitos trabalham longe” acrescenta, referindo-se ao projeto no sistema de transportes que cobra R$ 4,40 por duas viagens, uma delas intermunicipal. O aposentado ainda recruta familiares para o trabalho, e afirma ser algo comum onde mora.
“Lá no morro, em época de eleição, a maioria das famílias trabalha nestes serviços.”
Cabos eleitorais no metrô da Saens Pena Foto de Luíza Mello |
Maria de Fátima diz que é a primeira vez que trabalha em época de eleição, para “tirar um extra”, mas afirma que seu ideal político seria muito diferente. “Política devia ser fazer um bem comum para sociedade e através disso você ter seu beneficio. Eles entram na política e não fazem esse bem comum, isso é o que normalmente acontece”.
Perto dali, a adolescente Roseane Rodrigues de Oliveira, de 16 anos, panfletava para ganhar R$ 300 por quinzena. Estudante, moradora na Praça da Bandeira, surpreendeu-se com a pergunta sobre se votaria no candidato para o qual trabalhava. “Nem sei quem é”, disse, enquanto procurava o nome do político. “Mas eu ainda nem voto”, desculpou-se. E também se mostrou descrente da política: “Todos prometem, só que nunca cumprem. Tem alguns que lutam pelos deficientes, mas são bem raros”.
Já a professora universitária Ana Cristina de Carvalho, de 42 anos (foto ao lado), trabalha de graça – mas para o PV, um dos raros que conseguem mobilizar militantes voluntários.
Veja a entrevista com o Prof. Francisco Ferraz sobre o esvaziamento da militância apaixonada
“Hoje em dia, você vê uma pessoa que trabalha numa campanha eleitoral sendo remunerada, recebem em torno de R$ 100, 120 por dia para ficar panfletando, segurando placas, esse tipo de coisa. E ganham mais do que profissionais de saúde e educação do Estado, isso é vergonhoso!”, reclama.
Moradora no Alto da Boa Vista, Ana Cristina lamenta a falta conscientização, a desmobilização e a descrença da maioria dos eleitores. “Não se discute política, as pessoas dizem que os políticos são todos iguais, não valem nada e não vão fazer nada. Mas não é bem assim, vamos pensar, vamos refletir, nenhum candidato chega ao poder sozinho, o povo é que elege. Então o povo tem que chamar para si a responsabilidade, porque não adianta botar a culpa no político se foi o povo que o colocou lá”.
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