3 de outubro de 2010
O que foi feito daquela gente aguerrida que empunhava bandeiras e bradava slogans em manifestações entusiasmadas que enchiam as ruas? O que aconteceu desde o embate da primeira eleição direta para presidente após a longa ditadura militar, em 1989?
Nos últimos anos, a cada eleição a rotina se repete: cabos eleitorais pagos agitam burocraticamente bandeiras e distribuem santinhos às vezes sem saberem sequer para quem estão trabalhando. Nas praças e parques, conversam entre si, bocejam ou até dormem enquanto “vigiam” os cavaletes de propaganda: só quem sorri são os candidatos, em fotos cada vez mais retocadas.
Conversamos com algumas dessas pessoas, para saber como é trabalhar durante a campanha e o que pensam da política (veja a matéria). Nas entrevistas a seguir, com os professores Francisco Ferraz e Cláudio Farias Augusto, discutimos as razões para a apatia do eleitorado. E reproduzimos dois trechos de artigos recentes do jornalista Janio de Freitas na Folha de S.Paulo, que nos ajudam a refletir.
Fotos: Gabriela Charpinel |
“O desenrolar das eleições proporciona uma visão do que já se passa como consequência do pântano da política e da administração pública. A duas semanas do encerramento da campanha eleitoral, o descaso dos eleitores - uma recusa consciente e nauseada - não tem equivalente nos nossos anais desde a República. Nada de espontâneo, de voluntarioso, acontece nas ruas e nas praças, em relação às eleições. Nas rodas pessoais, nenhum toque eleitoral sobrevive a mais de duas ou três frases desmaiadas. O eleitorado não está nas eleições. Sabe dela, tem seus votos porque há de tê-los, mas não é parte. E deveria ser a principal, no entanto.
Caminha-se no rumo contrário à politização, por superficial que seja. Força-se a distância entre o país e os fundamentos de uma cultura política capaz de torná-lo, no futuro promissor que se avizinha, menos sujeito a se fazer conduzir por demagogias e marquetismos". (FSP, 16/9/2010)
"Foi uma campanha muito feia. Não só porque não teve nem um momento de grandeza sequer. Tudo foi chão, vazio, devedor. De tantos meses de campanha, não ficará NEM sequer uma frase, um slogan, um sinal de ação ou mesmo de um instante distinto pela inteligência. Se campanha prenunciasse o governo vindouro, o eleitor deveria ir em lágrimas para a urna.
Mas, com franqueza, a responsabilidade não é só dos candidatos e dos seus partidos. Vem de longe. Começou nas devastações e na incultura da dominação militar, e na profundidade com que as cravou na vida brasileira". (FSP, 30/9/2010)
Veja as entrevistas:
- Cláudio Farias Augusto - "Caminho democrático anestesiou o cidadão"
- Francisco Ferraz - Professor discute as razões para o esvaziamento da militância apaixonada
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