4 de outubro de 2010
Por Lara FariaO professor de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) Claudio Farias Augusto concorda com seu colega Francisco Ferraz (Veja a entrevista concedida pelo professor Ferraz) sobre a relação entre o esvaziamento da militância política e a história do PT.
“O PT, quando surgiu, era diferente de tudo que existia, por congregar intelectuais, estudantes e operários. Isso, no período inicial de saída da ditadura, significava um grande amor à militância. Havia uma esquerda aglutinada, pois existia um inimigo comum, e isso encantou os que desejavam mudança, embalando campanhas incríveis”. O crescimento do PT, normal com a consolidação da democracia, acabou, segundo Cláudio, por transformá-lo num partido semelhante aos tradicionais, que visa o poder a qualquer preço.
Um dos exemplos disso seriam as alianças em torno de questões imediatas como o tempo de propaganda na televisão, o que, segundo o professor, abala a confiabilidade do partido e mostra ao eleitor que a visibilidade da campanha é mais importante que a qualidade dela.
Razões para a acomodação
Cláudio considera, porém, que a falta de entusiasmo político está associada à própria rotina do processo eleitoral. “A democracia é morna por definição, já que não permite arroubos, pois estes levariam a mudanças drásticas. O caminho democrático de certa forma anestesiou o cidadão, isso é constatado pelas democracias onde o voto é voluntário: pouca gente vai às urnas”.
Segundo o professor, essa acomodação do eleitor está ligada a um apego “absurdamente forte” à idéia de representação política. “Nós nos alienamos do dever de tomar conta dos assuntos relativos ao nosso país porque escolhemos alguém que trate dos assuntos por nós. Daí aquelas reportagens onde o cidadão não lembra nem em quem votou nas eleições passadas, por ser descrente, por ter votado mecanicamente”.
O resultado é o afastamento do cidadão dos núcleos de poder: “a política passa a ser para poucos, que são não necessariamente elite social, mas um grupo de formadores de opinião”.
Apesar de nunca ter pertencido a nenhum partido, Cláudio sempre cultivou ideais de esquerda, a ponto de, “por precaução”, ter saído do país durante a ditadura. “Aliás, eu ainda acho que exista uma distinção clara entre direita e esquerda, fico perplexo com o fato de as pessoas acharem que chegar ao poder é tudo”.
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