Niterói

10 de julho de 2012

Mariana de Carvalho Ghetti

O caos no trânsito de Niterói provocado pelas últimas mudanças do Novo Plano de Transportes da cidade poderia ter sido reduzido com a manutenção da mão dupla na Avenida Roberto Silveira e a adoção de uma pista reversível. É o que sugere o urbanista Júlio Bentes, professor da Universidade Federal Fluminense, sobre as alterações ocorridas no fim de abril. O professor propõe alternativas para as recentes modificações no trânsito da cidade: na parte da manhã, uma das pistas do sentido São Francisco poderia ser revertida para o sentido Centro, e depois de passado o horário de pico o sentido voltaria a ser o mesmo. “As linhas de ônibus que fazem o trajeto sentido Icaraí e São Francisco não deveriam mais passar pela Roberto Silveira. Essas linhas seriam distribuídas. Na Gavião Peixoto passariam as linhas que se dirigem a Icaraí e imediações, já as linhas que não se destinam ao bairro, mas sim à Região Oceânica, deveriam passar pela praia, pois não precisam parar em muitos pontos”.

A Avenida Roberto Silveira agora tem mão única com a direção somente no sentido Centro. O trânsito no sentido São Francisco foi desviado para a Rua Gavião Peixoto, que perdeu alguns de seus pontos de estacionamento e ganhou uma faixa exclusiva para ônibus. A Rua Mem de Sá teve parte de seu sentido invertido e tornou-se voltada para a Rua Lopes Trovão. Além destas, a Rua Coronel Moreira Cesar, a Ministro Otávio Kelly e a Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres, mais conhecida como Praia de Icaraí, reforçarão o fluxo no sentido São Francisco.

Bicicletas em vez de carros



Urbanisticamente falando, o professor não aprova as alterações. “A Roberto Silveira é uma via arterial, e as vias internas de Icaraí são locais, exceto a Rua Gavião Peixoto, que é coletora. Ou seja, são vias com funções distintas. Júlio Bentes afirma que o bairro de Icaraí está sendo sobrecarregado devido à multiplicação de novos prédios residenciais. “E ainda assim o tráfego arterial, que não se destina ao bairro, passou a transitar por vias locais. Essas vias foram projetadas no início do século XX para atender a um loteamento de casas”. Onde antes morava uma família, agora moram várias, todas, em tese, com pelo menos um carro.

Júlio sugere ainda outra hipótese: o investimento em ciclovias e o uso das bicicletas. “O uso da bicicleta deve ser estimulado, com a implantação de um plano cicloviário para Niterói, utilizando-se as vias locais e coletoras, e com a adoção de ciclofaixas e ciclovias junto às vias arteriais”. O professor defende que tal plano seja articulado com as barcas e ônibus do sistema BRT (Bus Rapid Transit, ônibus articulados, que transitam em faixas exclusivas) através da colocação de bicicletários e, futuramente, bicicletas públicas.


Uma pedra no caminho



O novo Plano de Transportes de Niterói foi desenvolvido pela Nittrans com ajuda do urbanista Jaime Lerner a pedido da Prefeitura da cidade. Além das mudanças na direção de ruas em Icaraí, fazem parte do mesmo plano obras no Largo da Batalha, em Itaipu, e o polêmico Mergulhão no Centro de Niterói - só depois de iniciada a construção, descobriu-se uma pedra que atrasará a entrega das obras. A intenção é melhorar o trânsito, mas as mudanças junto com as obras podem acarretar em transtornos para os principais afetados: os motoristas.

Fernando Seixas, de 52 anos, trabalha desde os 20 como taxista na cidade e acredita que as alterações trarão melhoras, mas defende a implantação de novas medidas. “Teoricamente acho que essas mudanças devem melhorar sim o trânsito, embora o problema seja muito maior. Há muitos carros, motoristas despreparados e mal educados, ruas estreitas, muitos ônibus, nenhum sincronismo nos sinais, muitas obras”, comenta o motorista, para em seguida atacar os responsáveis pelas decisões: “Esses políticos, em vez de planejar melhor o trânsito da cidade, só querem saber de ganhar dinheiro. Eles não estão nem aí para a população. Se estivessem fariam planejamento escutando as câmaras setoriais e os conselhos. Enfim, o problema passa por todos, o que precisamos é de liderança, bom senso e educação”.

A cobradora Cristina Farias, de 38 anos, trabalha na empresa de ônibus Santo Antônio, na linha 44 Ititioca/Centro e não acredita na eficácia das medidas no Novo Plano de Transportes. “Do terminal ao ponto final da linha levávamos em média 45 minutos, agora estamos levando uma hora e meia, um absurdo!”, exclama a cobradora. Cristina acredita que as mudanças não acrescentarão melhoras ao sistema viário de Niterói. “A Avenida Roberto Silveira com sentido único não ajudou em muita coisa. A volta pela Rua Marquês de Paraná e Miguel de Frias está recebendo todo o tráfego que antes era dividido com a Roberto Silveira”.

As vias arteriais tem limite de 60 Km por hora e se caracterizam por fazer a ligação de um bairro a outro. As vias coletoras tem limite de 40 km por hora e facilitam a movimentação de uma região a outra em uma cidade por estarem ligadas as vias arteriais e de trânsito rápido (limite de 80km por hora). Já as vias locais se conectam, normalmente, a outras vias de mesmo nome e vias coletoras.

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