5 de dezembro de 2010
...e não só a favela à cidade
Por Charles MattosAssim terminou a mais emocionada fala do debate sobre as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, dia 3 de novembro, no salão nobre da Faculdade de Direito da UFF. A frase de dona Edna, moradora da comunidade Vila do Ipiranga,em Niterói, resume não apenas o que foi o debate mas também como está sendo e a expectativa de como será a vida dos moradores de comunidade do Rio de Janeiro. Dona Edna talvez não faça ideia de como o seu deslize gramatical foi significativo quanto ao que deve ser feito no Rio para mudar a cidade e o estado, restruturá-los não só pra quem mora no asfalto, mas também para quem mora na favela.
Dona Edna na verdade gostaria de ter dito que era necessário promover a integração entre favela e cidade. É nesse momento que seu deslize se torna emblemático: para asfalto e favela se integrarem é necessário que cada um receba tudo que o outro possa oferecer, do asfalto para a favela, da favela para o asfalto, sem qualquer tipo de preconceito.
É aí que as UPPs esbarram. Se, por um lado, os moradores da favela passam a receber contas de luz e de água, mesmo com um serviço de má qualidade, o funk, por exemplo, discriminado no asfalto, é proibido no morro. Dessa forma, a favela recebe a cultura da cidade, mas a cultura da favela, além de não ser aceita na cidade, é proibida dentro da própria favela.
Consequência lógica dessa “paz com armas”, tão bem vista por quem não mora lá, e mesmo por quem mora, e acaba aceitando esse controle, já cansado de tanto tiroteio.
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